Projeto Onças do Araguaia

Corredor da Biodiversidade do Araguaia
Um Marco na Conservação da Onça-Pintada e dos Biomas Brasileiros

A ameaça à onça-pintada e os desafios da coexistência
A onça-pintada (Panthera onca), o maior felino das Américas e predador de topo dos ecossistemas brasileiros, sofre diretamente com essa realidade. Em diversas regiões, a espécie é vista de forma negativa, sendo considerada um problema para os pecuaristas. Essa percepção, somada ao desconhecimento sobre a biologia da
onça e ao manejo inadequado de rebanhos, contribui para a intensificação dos conflitos entre humanos e o grande felino.

Estudos indicam que a percepção negativa da população em relação à onça-pintada pode chegar a 70% em algumas áreas. Isso significa que, mesmo quando não há registros concretos de ataques a humanos ou ao gado, a simples presença do animal pode ser suficiente para gerar medo e retaliações por parte dos produtores rurais.
Para reverter essa situação, diversas iniciativas têm sido implementadas nos últimos anos, focando na conscientização, mitigação de conflitos e educação ambiental. Contudo, apesar dos avanços, esses esforços ainda possuem alcance limitado. Para garantir a sobrevivência da onça-pintada a longo prazo, é necessário implementar ações mais abrangentes e efetivas, que promovam transformações significativas nos biomas onde esses felinos habitam.

A relação entre produção agrícola e conservação ambiental
Conciliar a produção de alimentos em larga escala com a preservação ambiental é um dos maiores desafios globais. O Brasil, embora possua uma das legislações ambientais mais avançadas e eficazes do mundo, enfrenta dificuldades em equilibrar essas duas demandas.
A expansão das atividades agrícolas e pecuária provocam a redução da vegetação nativa, levando à fragmentação dos habitats naturais e ao consequente desequilíbrio ecológico. Esse fenômeno força as espécies a se adaptarem a novas condições ambientais, resultando, em alguns casos, em conflitos entre humanos e animais silvestres.

Corredor da Biodiversidade do Araguaia
Um Marco na Conservação da Onça-Pintada e dos Biomas Brasileiros

Dentre as iniciativas mais ambiciosas e inovadoras para a conservação da onça-pintada e da biodiversidade brasileira, destaca-se o Corredor da Biodiversidade do Araguaia. O projeto, idealizado pelo biólogo Leandro Silveira em 2008, também ficou conhecido inicialmente como “Corredor da Onça” e visa conectar fragmentos de vegetação nativa ao longo de uma vasta extensão territorial,

Interligando dois dos principais biomas brasileiros, o Cerrado e a Amazônia, permitindo a livre circulação de espécies e garantindo a sobrevivência de ecossistemas inteiros.

O Corredor da Biodiversidade do Araguaia tem um papel fundamental na reintegração dos biomas brasileiros, criando passagens seguras para a fauna e permitindo que a vegetação nativa se regenere. No entanto, apesar de seu enorme potencial, sua implementação enfrenta desafios significativos, principalmente devido à necessidade de cooperação entre diversas partes interessadas.

Os desafios para a implantação do Corredor da Biodiversidade
A maior parte do território destinado à criação do corredor está em áreas privadas, tornando essencial o envolvimento dos proprietários rurais. No entanto, a resistência por parte desses produtores é um dos principais obstáculos para a execução do projeto. Entre os fatores que contribuem para essa resistência, destacam-se:
Desconhecimento sobre a importância da onça-pintada – Muitos produtores não compreendem que a onça-pintada é uma espécie guarda-chuva, ou seja, sua preservação contribui para a manutenção do equilíbrio de todo o ecossistema.

Percepção negativa sobre predadores de topo – O medo da presença da onça nas proximidades de propriedades rurais ainda é um problema, muitas vezes amplificado por crenças e mitos.

Receio de interferência governamental – Alguns proprietários temem que, ao participarem do projeto, possam atrair a atenção de órgãos ambientais, resultando em restrições futuras para o uso de suas terras.

Adequação da largura total do corredor – Em algumas propriedades de pequeno porte, sobretudo em áreas de assentamentos, a largura total do corredor pode ser um dificultador.

Mesmo iniciativas bem estruturadas, como o projeto conduzido pela Black Jaguar Foundation, têm enfrentado dificuldades para avançar na implantação do corredor devido a esses entraves.

Projeto Onças do Araguaia

Uma estratégia para superar desafios

Diante da importância do Corredor da Biodiversidade do Araguaia e dos desafios para sua implementação, o Instituto de Conservação Biointegrada (ICBIO) está desenvolvendo o Projeto Onças do Araguaia.

Municípios selecionados
Santa Maria das Barreiras – PA
Pau D’Arco – TO
Torixoreu – MTObjetivos do Projeto Onças do Araguaia

O projeto tem como principais metas:

  • Criar frações do corredor da biodiversidade do Araguaia em diferentes estados do Brasil.•
  • Mapear e catalogar a população de onças-pintadas utilizando tecnologias como câmeras trap e o método de identificação por padrão de pelagem.
  • Recuperar áreas degradadas da floresta nativa por meio da introdução de árvores frutíferas da mesma região, aplicando o conceito de agrofloresta para aumentar a oferta de alimentos para as espécies locais.
  • Integrar essas frações de corredor com trechos de projetos conduzidos por outras instituições, como o Instituto Onça-Pintada (IOP) e a Black Jaguar Foundation (BJF), criando uma conexão efetiva entre biomas.

Superando os desafios e garantindo a perpetuidade do corredor

A equipe do ICBIO realizou estudos para identificar os principais obstáculos à implantação do projeto e definir estratégias para contorná-los. Algumas das soluções propostas incluem:

  • Adoção de ferramentas legais e institucionais – Graças a avanços na legislação ambiental brasileira, será possível implementar medidas que garantam a permanência do corredor ao longo do tempo, mesmo com mudanças de geração entre os proprietários.
  • Incentivos para os produtores rurais – com a adesão ao projeto o produtor rural deixará de recolher impostos sobre a área cedida ao corredor, bem como poderá explorar qualquer recurso cênico ou turístico que existam na área.
  • Campanhas de conscientização – Promover palestras, workshops e visitas técnicas para demonstrar os benefícios do corredor para a biodiversidade e para a própria sustentabilidade das propriedades rurais.

Projeto Onças do Araguaia

Secção Santa Maria das Barreiras – PA

Benefícios Econômicos e Sociais

A implantação do corredor da biodiversidade impactará de maneira positiva a economia do município sede, bem como os proprietários rurais integrantes do projeto:

• Aumento de arrecadação: Empregos diretos e indiretos, ICMS verde
• Ecoturismo: Geração de empregos e aumento da receita local
• Valorização de propriedades: Terras com vegetação preservada possuem maior valor de mercado
• Incentivos para RPPNs: Isenção de ITR, acesso a financiamentos e créditos de carbono
• Garantia de perpetuidade, graças ao caráter vitalício das RPPNs

Números:

Meta: Recuperação de 2.500 hectares nos primeiros 5 anos
Número de propriedades contempladas pelo projeto: 29
Área do projeto 330 km² / 33.000 hectares
Perímetro do projeto: 84 km
Cumprimento total: 32,27 km (início na sede do município de Santa Maria das Barreiras e termino na foz do rio papagaio com o rio suçuapara).
Prazo de execução: O quinquênio 2025 /30.
Custo Estimado: 20.720.000,00

Etapas

  1. Mobilização e Parcerias (Meses 1 a 6)
    Atividades:
    • Identificação e contato com proprietários rurais nas áreas prioritárias.
    • Realização de reuniões, palestras e workshops para sensibilização e engajamento.
    • Formalização de acordos para cessão de áreas e criação das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs).
    • Estabelecimento de parcerias com órgãos governamentais, ONGs e universidades.
    Resultados esperados:
    • Adesão de pelo menos 80% dos proprietários-alvo.
    • Publicação das primeiras RPPNs.
    • Indicadores: Número de proprietários engajados; hectares cedidos; RPPNs criadas.
  2. Levantamento e Planejamento Técnico (Meses 4 a 9)
    Atividades:
    • Mapeamento e georreferenciamento das áreas cedidas.
    • Inventário detalhado da fauna e flora local.
    • Catalogação da população de onças-pintadas com câmeras trap e identificação por padrão de pelagem.
    • Análise do solo e definição das espécies nativas para plantio.
    Resultados esperados:
    • Base de dados georreferenciada e inventário completo.
    • Relatório técnico para planejamento do plantio.
    • Indicadores: Área mapeada; número de espécies catalogadas; dados da fauna coletados.
  3. Infraestrutura e Capacitação (Meses 7 a 12)
    Atividades:
    • Criação do viveiro de mudas nativas e banco genético.
    • Treinamento de equipes locais para coleta de sementes, produção de mudas, plantio e monitoramento.
    • Instalação de equipamentos para monitoramento ambiental e prevenção de incêndios.
    Resultados esperados:
    • Viveiro operacional com capacidade para produção contínua.
    • Equipe capacitada e preparada para as fases seguintes.
    • Indicadores: Número de mudas produzidas; número de pessoas treinadas.
  4. Preparação das Áreas e Correção do Solo (Meses 10 a 15)
    Atividades:
    • Demarcação dos lotes prioritários para plantio.
    • Correção do solo, se necessária, com adubação orgânica e controle de erosão.
    • Planejamento do plantio considerando épocas ideais e técnicas agroflorestais.
    Resultados esperados:
    • Áreas preparadas para o plantio com solo adequado.
    • Indicadores: Hectares preparados; qualidade do solo aferida.
  5. Plantio e Restauração (Meses 16 a 27)
    Atividades:
    • Plantio das mudas nativas e frutíferas, com foco em agroflorestas para favorecer a fauna local.
    • Implantação de corredores ecológicos para conectividade.
    • Monitoramento inicial da sobrevivência das mudas.
    Resultados esperados:
    • Plantio de todas as mudas previstas na fase inicial.
    • Corredores estruturados e conectados.
    • Indicadores: Número de mudas plantadas; taxa de sobrevivência inicial.
  6. Manutenção e Monitoramento Contínuo (Meses 28 a 42)
    Atividades:
    • Controle de pragas, manejo de plantas invasoras e prevenção de incêndios.
    • Monitoramento da fauna e flora, com atualização dos dados de onças-pintadas e outras espécies.
    • Ajustes nas práticas de manejo conforme resultados observados.
    Resultados esperados:
    • Alta taxa de sobrevivência das mudas e aumento da biodiversidade.
    • Relatórios periódicos de monitoramento.
    • Indicadores: Taxa de sobrevivência; número de espécies monitoradas; relatórios entregues.

Conclusão

A criação do Corredor da Biodiversidade do Araguaia é uma das iniciativas mais relevantes para a conservação da onça-pintada e para a preservação dos biomas brasileiros. No entanto, sua implementação exige esforço conjunto entre instituições ambientais, produtores rurais e órgãos governamentais.

O Projeto Onças do Araguaia surge como uma alternativa viável para tornar essa iniciativa realidade, buscando soluções práticas para os desafios encontrados. Com planejamento, cooperação e conscientização, é possível garantir um futuro onde a produção agrícola e a conservação ambiental coexistam de maneira harmoniosa, beneficiando tanto a biodiversidade quanto os próprios produtores rurais.

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